69 - O AMADO E A AMADA

POSTAGEM FINAL -Cântico da Amada: Meu Amor de Ouro!


Nesta última postagem, vamos dedicá-la com uma poesia ao AMOR DA NOSSA VIDA! A Amada chegou ao centro do Amor Divino...e nesse Centro repousa na suavidade da Brisa ardente que é o ESPÍRITO de DEUS! Aqui está tudo em equilíbrio...já nada lhe falta.
Quem poderá imaginar a felicidade interior, a satisfação plena de todo o anseio humano, que aqui é satisfeito? A PAZ é de ouro...a qualidade inconfundível desta serenidade interior marca toda a diferença...DEUS é tudo para ela! Cheia de pura gratidão pelo AMIGO, canta este poema numa felicidade indizível: 

Meu Amor de OURO
Que VIVES no  íntimo do meu
proprio ser ...
es para mim ... e eu sou para TI ...
qual  jovem gazela  
ansiando o Teu
Abraço de Ternura
Que não terminará jamais ...
Ó Filho do Deus Vivo
que me enamoras 
ate morrer de amor ...
danço para ti, Sobre as
asas da Primavera
na Nossa Tenda de marfim!
O Teu Rosto trigueiro 
Onde Brilha o teu claro Olhar
Desde a Eterna Morada
Da Luz infinita
Ó meu amor ...
meu aconchego ...
ternura sem retorno!
Abraça-me 
e Não Me Soltes mais ...
Porque o vento do Norte
é frio ...
e eu anseio o calor 
Do Teu Beijo sereno
Ó Ternura de Deus
Vulcão de mel e
Fonte de Toda a ternura humana ....
ó Querido! Amor verdadeiro!
Por Causa de TI perdi Tudo
e já não desejo nada
senão só repousar
no Teu Colo sereno
Onde meigamente 
me enches do Teu doce Alento ...
Ó Amor!
que me amas
na vida e na morte
porta magnifica 
Do Amor INCRIADO!
Meu Coração descansa Nesse Infinito
Onde o Que É eterno
É repassado De VIDA
que goteja felicidade eterna
Ó Amor ... Amor ...
Que me criaste para Ti
e me abraças na Minha indigência ...
No fim de tudo
...tudo desaparece porque
é finito...só ficas Tu
Ó Amor ...
Meu querido Amor! 
MT...
   

68- O MELHOR DOS AMANTES





Teresa convida-nos a viver algo tão simples como é a Amizade com Deus, com Jesus...
Cultivá-la no silencio...na nossa interioridade...tratar com ELE todos os dias, entrando todos os dias em nós mesmos...

O  Trato desta amizade, deste enamoramento é afectuoso e cheio de carinho, de Ternura e novidade....A TERNURA é superior ao prazer da vida...quanto mais quando se trata da ternura de Deus!

«DEUS É O MELHOR DOS AMANTES» diz Agostinho de Hipona e é a pura verdade!...não teve ele a experiencia de TUDO o que o ser humano quer e pode gozar? experimentou tudo...mas tudo, ao fim de algum tempo o deixou vazio...só quando experimentou o Amor de Deus é que descobriu a FELICIDADE que dura e não diminui...a liberdade que desvenda horizontes infinitos...que não cabem na pequenez da nossa inteligencia...

Esta relação espantosa e maravilhosa com Deus é o que dá equilibrio a todas as nossas relações humanas... e a própria relação humana dá expressão a esta relação com Deus...

Quando dois enamorados olham um para o outro não dizem «coisas sem sentido»?...tudo tem sentido nesse amor... com ELE é igual...usa-se as mesmas expressões...se bem que a intensidade do afecto  - quando se chega a um cume deste amor - é intensíssimo e «devorador...».

67 - A AMADA DE DEUS...


A «alma» é como que a melhor parte do ser humano, englobando-o na sua totalidade. Quando dizemos «melhor parte» queremos dizer que é o nível de interioridade onde nós nos encontramos a nós mesmos e a Deus! É a esse nivel que podemos ter o Trato afectuoso com DEUS, O AMIGO! ...A alma, com toda a realidade pessoal e humana que a implica, é a AMADA de Deus... cheia de Beleza incontida! participa de um Amor preferencial e imenso!
Como é possivel que não acreditemos que pode existir uma relação tão espantosa como esta com o nosso Deus...onde há trocas de afecto...carinho, perguntas, sugestões...como se fosse um de nós? 

Os nossos místicos cristãos têm experiencia cabal dessa relação...como dois enamorados... Não é ELE a FONTE do AMOR? ...porque nos custa tanto entender isto? Uma delas cantava: «Só a Ti, só a Ti, meu Amor, só a Ti eu pertenço! ...Teu Coração Amante, me chama a cada instante e na Tua Morada, já não desejo nada!... Ó meu Divino Amante, teu Amor é constante, meu coração anseia amar-te noite e dia, és o meu ÚNICO AMIGO...e quero estar conTigo!»

66 - É ELE QUE VAI AO VOLANTE!

Outro fruto é a CONFIANÇA ABSOLUTA NO AMIGO! É Ele que vai ao volante! AS GRANDES INICIATIVAS de felicidade íntima são Dele!
O ser humano tem a tendencia do protagonismo, mas na vida espiritual não é assim...

Um dia, nas suas conversas familiares com Jesus ressuscitado, Teresa falou-LHE de um seu amigo e certas dificuldades que ele tinha,  ao que o Senhor lhe respondeu: "ele muito Me serve, mas grande coisa é seguir-Me desnudo de tudo, como Eu me pus na Cruz. Diz-lhe que se fíe de MIM!"


 «...que se fíe de Mim!»...

Este é o segredo...a chave fundamental da eficácia desta relação espantosa! ....

Qual é a diferença entre FIAR-SE de alguém, ou CONFIAR em alguém?

A CONFIANÇA indica um fugaz sentimento da alma nas circunstancias em particular...

FIAR-SE é um «sentimento» ABSOLUTO, independente de qualquer situação....

No plano humano, entre nós, quando nos fiamos de alguém...confiamos nela mesmo que nos desiluda ou nos atraiçoe, descansamos nela para a vida e também para a morte em circunstancias adversas...Esse amor que se fia do outro é um amor superior...está sempre de braços abertos para acolher mesmo quem o rejeita...Deus fia-se de nós!!! e deseja muito que nos fiemos DELE!

Quais são as certezas que tenho de Deus? ter a certeza do Seu Amor...é a melhor e maior FELICIDADE que a pessoa humana pode possuir....

65 - NÃO HÁ MEDO !


O encontro com o AMIGO é muitíssimo desejado! por isso um outro fruto desta relação é  o NÃO TER MEDO DE MORRER.... apareça o que aparecer...confia-se plenamente...

A pessoa ama a vida, dá graças a Deus por tudo quanto existe e sobretudo pela amizade humana...que foi moldada também por esta relação fundamental com Deus!
Na eternidade...quer queiramos quer não... DEUS será TUDO em nós, que somos seus amigos!

64 - CAEM AS MÁSCARAS!

Um dos frutos desta relação é que nos caem todas as máscaras, e começamos a ser, para nós, para Deus e para os outros,   a partir da nossa verdadeira identidade interior! experimentamos a LIBERDADE INTERIOR E EXTERIOR...
Esta é uma realidade espantosa que nos traz uma das mais genuínas alegrias de DEUS!
Quando é que abrimos os olhos e o coração à verdadeira FELICIDADE? ....
LIBERDADE INTERIOR E EXTERIOR...
quem é que a vive a pleno pulmão?...

63 - O TRATO

Estamos já a terminar as nossas postagens e por isso vamos rever alguns pontos essenciais que foram ditos, para organizar as nossas «ideias» acerca deste assunto do TRATO DE AMIZADE, tal como a define Teresa:
«A meu ver, oração não é outra coisa senão tratar intimamente com Aquele que sabemos que nos ama e estar muitas vezes conversando, a sós, com ELE!» Que quer dizer «trato»?

O Verbo TRATAR na lingua materna de Teresa tem, (no Dicionário da Real Academia Espanhola), pelo menos 10 significados e suas derivações correspondentes. Dos 10 em que dois não nos interessam aqui, como sejam o significado comercial e também o significado moral do mal entendimento com alguma pessoa moralmente censurável, etc, temos 8 significados úteis para compreendermos melhor a amplidão que se inclui na definição teresiana de "oração" de "relação com Deus".  Fazendo a aplicação desses significados para o tema da oração, então Tratar de Amizade implica:

  1. Falar com o Outro. Quando duas pessoas não se falam, dizemos que não se tratam; 
  2. Comunicar-se com o Outro onde não é apenas troca de palavras, mas abertura e confiança; 
  3. Ocupar-se com ELE
  4. Consultá-L'O, pedir conselho
  5. ter relação amorosa, o que implica maior intimidade, muita intimidade como quando dois estão no noivado ou no casamento; Aqui os afectos são o centro da relação....
  6. conversar frequentemente com ELE
  7. tratar-se frequentemente por meio de conversas
Uma verdadeira história de AMOR a dois!
Necessário é procurar a intimidade na soledade! estar a sós...verter os afectos no AMIGO...

62 - O ÚNICO QUE NÃO FALHA!


O Trato de Amizade implica pôr toda a confiança no AMIGO, sem perder a sua autonomia própria e identidade pessoal! 

A oração que Teresa propõe é o desenvolvimento dessa AMIZADE até chegar a ser UMA SÓ COISA COM ELE!

No desenvolvimento deste processo de AMOR vamo-nos conhecendo a nós mesmos, vamos tomamdo consciência daquilo que somos. Não estamos nesta vida para repetir ninguém,  porque cada um é chamado pelo seu próprio nome, pela sua própria identidade!

Este processo de AMIZADE abre-nos a um crescente processo de liberdade interior!

e um dos frutos é precisamente a plena confiança no Amigo e a confiança em si mesmo, deixando de lado tudo aquilo que «PARECE» seguro, mas que sendo humano falha quando mais se necessita dele....ao fim de tudo só fica Deus...o ÚNICO AMIGO que não falha NUNCA!

Mas as pessoas normalmente não O têm por Amigo...vive-se ao sabor da exterioridade!

Há anos atrás um teólogo perguntava-se: «Seremos nós os últimos cristãos? e Jesus...«quando o Filho do Homem voltar...encontrará fé na terra?»

O Deus Bom, que é o Deus de Jesus Cristo tornou-se com o passar dos anos num "deus" distante, cruel....este "deus" sim... é bom que morra! Porque esse "deus" não existe...não é a identidade do Deus de Jesus Cristo!

O "deus" que uma boa parte das pessoas tem na sua vida, é precisamente a imagem que têm delas próprias e dos outros...um pai mau...é logo identificado com «deus mau».... se eu não me aceito porque não me perdoo...o meu "deus" é cruel porque não me aceita nem me perdoa....e assim por diante!

Por isso é necessário uma permanente purificação da ideia que se tem de Deus...e o trato de amizade como processo pessoal de liberdade e amor ajuda a chegar à verdade de Deus...

61 - RUMO AO CORAÇÃO!


Como vimos na postagem anterior, a crise nunca pode vir da parte de Deus, mas do homem que não se conhece a si próprio ... perdeu a sua identidade mais profunda.

Atraído pelo brilho da sua própria capacidade e beleza, ofusca-se e não pode ver os verdadeiros valores que o dignificam! às vezes o ser humano parece um robô, comandado pela cegueira e o sentimento!

Teresa, que no seu tempo enfrentou o mesmo problema, revelado sob outras formas, é testemunha credivel de que podemos voltar á interioridade que nos salva!

Ela fez a  experiência de DEUS! e por essa razão tem verdadeira audiência, porque o seu testemunho continua presente no mundo e quem a lê não fica indiferente! 

Não é por ser ela um clássico da língua, ou o seu estilo ser insuperável com uma narrativa cativante, mas porque Teresa é um LIVRO ABERTO PARA TODOS: - historiadores, estudiosos da espiritualidade - seja a que for -outras Religiões, psicólogos, literatos e um sem fim de especialidades ...e porquê?

- Porque a sua experiência mística é atraente e sedutora, mas o que lhe dá realmente consistência é a QUALIDADE E O CONTEÚDO DO SEU TESTEMUNHO! o realismo e penetração na alma humana. Parece ler os olhos, a boca e o coração do leitor/a

Esta profundidade vital e existencial é o que a faz TESTEMUNHA QUALIFICADA porque Teresa acredita em si própria e no ser humano... em que sentido? 

- Na possibilidade e capacidade que cada um tem para se relacionar com Deus  e ter a mesma vida d'ELE, porque cada ser humano é CRIADO À IMAGEM E SEMELHANÇA DE DEUS, por isso é «CAPAZ DE DEUS». Só Deus pode ser o «conteúdo» que satisfaz plenamente o coração faminto de plenitude...

Deus criou-nos com essa dimensão de só ELE nos poder encher. Só n'ELE ficaremos satisfeitos...por isso Deus está no coração...mas é preciso caminhar rumo ao coração....

60 - UMA LÁGRIMA NO MUNDO DE HOJE!




Por elevada que seja a experiência espiritual , a pessoa não é arrancada do seu terreno humano, da sua situação concreta. Uma das notas de autenticidade dessa experiência é precisamente o enraizamento na situação concreta da pessoa e o seu progresso! 

O místico é a TESTEMUNHA DA PLENITUDE dessa LUZ maravilhosa e libertadora que está por detrás da obscuridade.
Hoje em dia as formas tradicionais de exprimir a relação com Deus estão em profunda crise...tal como no tempo de Teresa...

Na verdade, por mais que se diga que Deus está em Crise, a crise é do homem que perdeu a sua profunda identidade! Deus é Deus...permanece na Sua altura máxima de novidade e Amor. Personalidade Fabulosa,  Fonte Viva da Vida, da Inteligência e do Amor...o «FAZEDOR» de toda a Criação!

O que acontece é que hoje em dia criaram-se novas "religiões", mas. religiões sem "DEUS" que parecem tornar naturalmente impossível a Relação com Deus, SUBSTITUINDO-O. Podemos dizer que é uma idolatria  que  não é criada pela religiosidade, como aconteceu na história da humanidade, mas radicada do próprio homem.

Centrado nele próprio o homem ocupa o lugar de Deus, afogando em si mesmo a sua própria carência existencial. Que terrivel é isto! Que cegueira se padece!

Hoje a fé vive num mundo secularizado que presume ser ATEU, que é bonito ser-se ateu...As grandes figuras da política, da arte, do Cinema ...para eles é algo importante apresentarem-se como «ateus» ou «agnósticos», porque de contrário não serã «aceites», «reconhecidos». 

Nesse mundo secularizado as genuinas expressões da fé e da verdadeira mística são obrigadas a calar...As realidades mais profundas do ser humano são abafadas pela sede do «estado do bem-estar» que nos põe de lado e fora  da realidade profunda da felicidade autêntica. Percebe-se cada vez mais a cultura da intranscendência! Chegou-se a um ponto de ter como bom o individualismo e o narcisismo tornou-se uma "virtude" a praticar, havendo um fechamento à interioridade onde se dá a verdadeira relação com Deus.

Fala-se já da 3ª morte de Deus ...Deus não pode morrer, mas entendamos! A 1ª...foi no Calvário...a 2ª com as duas guerras mundiais e o genocídeo...e agora a 3ª com a injustiça à escala mundial com as suas novas formas de escravidão... e surge aquela tremenda pergunta:
                                                  
                                                       ONDE ESTÁ O TEU DEUS?

59 - É ISTO A FELICIDADE?

 As pessoas não têm nem encontram tempo suficiente para pensar ou fazer silencio, para meditar e orar e no entanto é fácil caírem na presunção de acreditar que estão cada vez melhor, que progridem, quase como se o mundanismo fosse capaz de substituir o Céu que levamos dentro de nós. 
Somos como soldados em defender a própria escravidão....é isto a felicidade?

É espantoso como as pessoas vivem mesmo oprimidas  pela convicção de que o dinheiro e o poder dão essa felicidade.

Uma noticia da televisão dizia: «O país mais feliz do mundo é a Dinamarca», contudo, apesar de terem o poder de fazer tudo...o grau de infidelidade matrimonial chega aos 75% ...e a percentagem de suicídios é a mais elevada....é isto a FELICIDADE apregoada?

Por muito que queiramos esquecer a interioridade do ser humano, antes ou depois, esta acaba por se revelar, para cairmos na conta da maravilhosa riqueza que nos habita!

A chave da nossa felicidade, não apenas como medicina paleativa, mas como PROCESSO QUE ESTÁ NA NOSSA MÃO : "Ponho diante de ti a Vida e a Felicidade...!»  só depende de nós, não de Deus. Porque da parte de Deus já está tudo garantido!

O Senhor colabora, dá oportunidades de relação a Sua Palavra não volta atrás. A Sua Palavra é AGIR. Não depende nada mais do que de mim querer viver esta felicidade que nos propõe!

58 - O MUNDO MODERNO É LIVRE?


«Olhai - insiste Teresa - que importa muito que entendais esta verdade: Que o Senhor está dentro de nós e que ali estamos com ELE!»

A vida é como uma ponte de corda...com os variados ventos ela oscila...e dá-nos vertigem...ou então como uma dança que, de muito rodar ficamos «sem norte»...
A vertigem da vida que redopia sem cessar em busca da felicidade efémera, é tão grande, que os nossos olhos interiores amortecem para o essencial da verdadeira felicidade íntima que cada um de nós possui latente em si mesmo.
"Recolher-se" é uma necessidade imperiosa no mundo actual E Teresa nos oferece uma oportunidade significativa, e contudo o mundo nos dispersa, nos exterioriza, nos debilita na nossa própria ausencia de nós mesmos. O que deveria ser uma oportunidade de crescimento, com o desiquilibrio no seu âmago...oprime a liberdade interior que é a porta da Felicidade profunda.

Podemos dizer que o homem moderno tem grandes oportunidades para a ausencia, a distracção, a fuga ao essencial. Aborrece-o prestar atenção e manter-se em vigilante alerta na obscuridade de quem olha a Deus na obscuridade da fé e na interioridade de nós mesmos.

Metermo-nos dentro da nossa interioridade! repara que isto é algo tão simples e tão perto de cada um de nós ... mas é um problema agudo para o mundo moderno que se diz «livre»! É o mundo com as suas escravidões ...

57- SER AMAD@!


QUEM NÃO NECESSITA SER AMADO?
Para os que tratam a Deus COM AFETO, desde o inicio do seu projecto espiritual, a chamada «Noite passiva do sentido» passará quase inadvertidamente. É claro que este modo de se relacionar com O AMIGO que Teresa ensina - porque ela mesma o fazia -  é simplicíssimo porque lhe foi proposto e ensinado, como já foi dito, pelo mesmo Deus. Tudo o que sai da Mão de Deus tem a marca da pura simplicidade e da eficácia.

A própria Palavra de Deus carecerá de sentido «para mim» até que consiga por-me em verdadeiro contacto com O ABSOLUTO dentro de mim!. 

É o sentido fundante do coração unificado e aderido a Deus. Sentido que toca as raízes do ser...este, sim! é o verdadeiro sentido e a verdadeira eficácia de Deus.

Teresa diz-nos que o Senhor CHAMA A TODOS SEM EXCEPÇÃO a esta Amizade com ELE , a este como que «casamento» com Deus...espantados? é deste «casamento» que Teresa trata e fala com verdadeira paixão!

Não vemos quantos desvios o ser humano sofre por causa dos afectos? a necessidade de ser amado e de senti-lo, realmente, muitas vezes prega-nos partidas dolorosas! Tudo «morre»...só o Amor incondicional de Deus prevalece aconteça o que acontecer! Ele é a Fonte do nosso equilíbrio...não façamos ilusões!

Quanto mais a pessoa reconhece a sua sã dependência de Deus, mais Deus a favorece de uma forma cada vez mais total.  Os favores de Deus são de tal forma bons, maravilhosos e  preenchem o coração humano que ela exclama: 

«Ó vós que começastes a ter oração e que tendes verdadeira fé: que bens podereis procurar ainda nesta vida, que se possam comparar com o menor destes
        
Sentir-se amad@ por Deus..é a melhor coisa que nos pode acontecer nesta vida...oh! se soubessemos a FELICIDADE DE OURO que nos espera na Sua companhia!

56- CONQUISTOU A MENTE E FRACASSOU O CORAÇÃO




Este homem - Govinda , o asceta errante - que peregrinou para fora e para dentro de si mesmo,  sabia, no mais fundo de si  que, havendo CONQUISTADO A SUA MENTE, tinha fracassado em relação ao coração. 

Deu-se conta de que durante todos os anos se tinha dedicado ao desenvolvimento da sua mente, do seu pensamento, a cultivar o EGO mas que o seu coração se tinha secado como um ribeiro em Verão... 

Não nos aconteça a nós o mesmo, tornando-nos pessoas «frias» afectivamente, quase indiferentes ao afecto dos outros e ao afecto de Deus. O pensamento, a mente tem o seu próprio poder, mas não é tudo...não é DEUS -  Fonte dessa capacidade!

Teresa ao re-descobrir o coração acontece o «milagre».

Diz ela no livro da sua Vida: "Não sabia o que era rezar com satisfação até que o Senhor me mostrou este caminho!" da relação de Amizade afectuosa, de entrar dentro da alma.

Redescobriu-se para encontrar verdadeiramente Deus! O elemento afectivo é indispensável no Caminho de Teresa. O trato de Amizade com o Senhor que ela nos propõe, sem o afecto... não é trato nem amizade!

55- RE-DESCOBRIR O CORAÇÃO


 


Teresa teve a oportunidade de "re-descobrir" o Coração num momento e numa época cultural e espiritual em que predominava a reflexão, o pensamento, isto é a "cabeça" sobre o coração. 

Numa cultura predominantemente assim, ao não poder orar com a "cabeça", buscou então o "coração". 


O caminho de Teresa é, pois,  o caminho da CORDIOLIDADE,  i.e. do carinho, do afecto, da amizade e familiaridade....com o Senhor e começou a "regressar" à sua própria morada.  

Ah! - dizeis - isso são os sentimentos entre nós, mas Deus....tão longe, tão diferente.... 

ESTAIS REDONDAMENTE ENGANADOS! Jesus Cristo é revelação humana da Pessoa de Deus! Ele é um Homem, um ser humano como tu e como eu...extraordinariamente ternurento e amigo! O que acontece é que ELE só se mostra a quem quer e como quer... Temos de convencernos que nem todos somos verdadeiramente AMIGOS d'Ele! Existe em nós muita actividade do EGO que maltrata a capacidade para a experiência de Deus....

Mas a partir da experiência de Teresa resulta-nos mais fácil voltarmos a casa e aprender essa magnífica referência de assumirmos modos simples e profundos de amar e de tratar de Amizade com ELE, desde a «morada interior» que é a interioridade do coração onde  nos aguarda.

Dizia Govinda, o asceta errante: "O anseio de Infinito me cega. Acaso existe uma cova mais fructífera do que a do próprio coração?»

Esta AMIZADE COM DEUS não fica estagnada em Deus...nós próprios somos os primeiros a ser favorecidos nas relações fraternas, no amor de uns pelos outros...


54- A PRESENÇA COMPLETA AO ÚNICO AMOR


A verdadeira oração de Recolhimento, como proposta de Teresa...oração que lhe foi «ensinada» e indicada pelo próprio Senhor...é precisamente isto: chegar a possuir-se de tal forma que a própria presença seja completa ao Único Amor...

Quer queiremos quer não...na eternidade O Senhor será o Único e fundamental Amor de todos os seus amigos reunidos junto d'Ele! 

Ser casado ou solteiro...nada tira a esta centralidade de Deus na tua vida...antes a enriquece de tal maneira que  os variados estados de vida são meios privilegiados para chegar a essa centralidade...um alimenta o outro!

Por isso é tão importante que os afectos estejam em equilibrio...e nunca fazer das situações ou das pessoas o nosso único horizonte apoiando-nos neles como se fossem a nossa inabalável segurança afectiva e existencial.  

Viver assim é viver num grande engano, numa sedutora mentira que mais cedo ou mais tarde nos sairia muito caro!

Dizia Teresa: «Livremo-nos destas boas intenções que nos saem muito caras!».

Aos poucos...mergulhar na presença de Deus nesta oração de recolhimento, é grande ajuda para nos assenhorearmos da nossa própria vida, dependendo de Deus somente, naquilo que só d'Ele pode depender: a nossa felicidade...a liberdade interior...a centralidade no essencial...

53 - QUEM NÃO ENCONTRA O SEU "EU" NÃO PODERÁ SER "ELE PRÓPRIO"


 Não tenhamos receio... a resposta de Deus é maravilhosa! Procuremos, com coragem, fazer  a aprendizagem da própria pobreza.

Quando sabemos e aceitamos - na paz - que temos defeitos e incapacidades, que não podemos grande coisa na mudança de nós mesmos, então o coração é recuperado para a mudança necessária.

Vejamos:

1. Quem não encontra o seu «eu» não poderá ser «ele próprio»

2. Para alguém dar-se é necessário possuir-se.

3. Para se relacionar é preciso a auto-presença.

4. A experiência afectuosa do trato de Amizade com Deus, nasce da profundidade da ATENÇÃO PLENA
 
5. O silencio INTERIOR é o «lugar» do nascimento da palavra na relação afectuosa quer com Deus quer com os outros. Por isso, um "amigo de Deus" nestas condições, usa a palavra correctamente com os irmãos e de igual modo é usada em relação a Deus!

É indispensável esta própria aceitação. Só nela teremos capacidade para experimentar o amadurecimento psicológico, humano e espiritual...a fé amadurece admiravelmente, condição básica para a revelação de Deus.

52 - A CHAVE DA INTERIORIDADE



A chave da interioridade está em perder os medos...

medos de quê? 

- Da própria pobreza!

A pessoa recolhe-se quando não foge da sua pobreza!

Na verdade é preciso apresentar-se diante de Deus o mais 

     *Desinstalado possível ! 
     *Sem modos nem maneiras estudadas!
     *Sem os próprios recursos que não servem de meio adequado para a união com Deus!
     *Sem defesas.

Diz João da Cruz que uma das grandes claves de dispersão, de ansiedade e de falta de recolhimento, é não querer perder o protagonismo do seu próprio processo e projecto espiritual!

Submergidos na relação com Deus, deixemo-nos modelar por essas relações de Amor que se podem experimentar gozosas ou reduzidas à impotencia, como já falámos algures.

É um caminho a percorrer...um amor a crescer!

A doçura no trato, a amizade fraterna...o acolhimento da fragilidade do outro  são frutos da interioridade  como Amizade afectuosa com o Senhor!

51 - NÃO GOSTA DE REGRESSAR!

O homem e a mulher de hoje, vivemos apanhados pela exterioridade. A cultura moderna, como já vimos, é uma cultura da ausência de nós mesmos em nós. Resulta difícil seguir o conselho dos Padres do Deserto: «VIVERE SECUM». 
É um grande desafio para o mundo de hoje, pois Deus encontra-se verdadeiramente ali "dentro", onde o homem não está. 


Dizemos mais: ali onde o homem não gosta de regressar, porque lhe custa fadiga, esforço, solidão e sacrifício! 

As ventosas da sensibilidade são de tal forma opressoras, que lhe é quase impossível não fazer caso delas!

O revolucionário quer mudar o mundo...e o místico começa a mudar-se a si mesmo!

Esta é a grande diferença.

O Místico, ao começar esta mudança em si mesmo, vai encontrar o TESOURO MARAVILHOSO da presença pessoal de Deus dentro de si.

Porque é que resulta tão dificultosa o recolhimento em Deus, precisamente naqueles que nos dizemos «os Amigos de Deus»? Na verdade muitas vezes a pastoral e a pastoral da oração em particular encontra um grande obstáculo na irrefreável tendência para um «sair de si», numa actividade que muitas vezes é alienante e "desinteriorizante"  tornando muito dificil a serenidade interior e o «regressar» à sua casa como já foi visto anteriormente numa das postagens.

50 -O TEMPO É CURTO E PARA ALGUNS CURTÍSSIMO!

O tempo para podermos regressar à «nossa própria casa» de uma forma permanente não demora apenas uns minutos ou uns dias....

Diz Teresa que o tempo é curto e para alguns curtíssimo...porquê? porque pode acontecer que quando a pessoa se decida a fazê-lo...já não tenha tempo porque o Senhor o veio buscar!...

Apesar da relação com Deus ser afectiva, exige um ambiente e umas condições que não nascem assim espontaneamente... não é um «amor á primeira vista», pelo menos da nossa parte...

Até desde um puro humanismo psicológico, alguém caíu na conta de que, "grande parte do sofrimento que padece muita gente, pode ser atribuído - e não em pequena medida -  ao facto de que vivemos exilados da nossa própria terra natal, i.e. do mundo interior" (A.Maslow)

Aplicado à Oração, a dificuldade reside em não saber-se recolher... i.e. entrar dentro de si! Conseguido isto, consegue-se tudo, pois o Recolhimento - trato afetivo com ELE -  é o Segredo da Oração.

E àqueles que, ao fechar os olhos para se recolherem, sentem a vertigem do vazio sem sentido, Teresa adverte:  «NÃO NOS IMAGINEMOS OCOS, VAZIOS, POR DENTRO!» (C.P. 28,10).

Se, à 1ª vista esta Oração de Recolhimento parece não ser para todos, é só pela dificuldade que muitos têm em «entrarem dentro de si mesmos». Mas este caminho é oferecido a todos, se bem que se exige determinadas condições para poder percorrê-lo!

49 - A CULTURA DA AUSÊNCIA!

Santa Teresa escreve, a seu modo, sobre aquilo que poderíamos denominar a «CULTURA DA AUSÊNCIA» de Deus... a Cultura da distracção de Deus.

Refere-o com a imagem de um belíssimo castelo em cujo centro vive Deus, mas a pessoa humana vive distraída dessa realidade, desse tesouro que possui dentro de si mesma.

Está fora do castelo, da sua própria "casa",  não tendo, por isso, a percepção da profundidade interior que a habita e que só será apreendida com um «voltar a si mesma», recuperando-se como «espaço interior». Isto implica estar fora da verdadeira experiência de Deus que vive nesse castelo perdido, nessa interioridade ainda não recuperada!

A sua própria beleza a ofusca, perdendo a direção ao essencial!

A pessoa tem de «entrar». É imprescindível, mesmo que haja dificuldade.Tem de voltar a prestar atenção à propria interioridade, definida, num primeiro momento com «voltar em si». Deixar de estar derramada no exterior, distraída, ausente de si mesma...

48- NO MEIO DA AGITAÇÃO...



Como dissemos, Teresa também esteve neste dilema e desabafa ela:
«Oh Valha-me Deus, como me espanta a dureza da minha alma, apesar de ter tido tantas ajudas de Deus! Faz-me andar temerosa ao ver o pouco que eu podia e quão atada me via para não me determinar a dar-me de todo a Deus!...eu me admiro agora como podia viver ...» (V. 9,8)

Isto aconteceu há anos...no tempo dela, mas em relação a nós é a mesma coisa!.

Se a luta contra a imaginação e a exteriorização era uma das causas - e segue sendo! -  agora juntam-se-lhe outros:

- O ativismo que mata a capacidade de oração e a possibilidade de contemplação, precisamente pelo excesso de actividade. Uma actividade boa em si mesma...mas o excesso mata a capacidade de relação e interioridade na intimidade com Deus!

Disse João Paulo II «Para encontrar-se com o Mistério, exige-se paciência, purificação interior, silêncio, espera!».

É imprescindível vivermos atentos que é o contrário ao que estamos habituados. Infelizmente a ausência e a distracção é praticamente o nosso estado habitual...

No meio da agitação extrema...como poderá a serenidade brotar? ...

47 - MENTE SERENA




 
Um dos frutos desta interioridade como relação afectuosa com ELE é ter uma mente serena para, no meio do tumulto, das «tempestades», das urgências da vida ganhar as condições necessárias para poderem desenvolver a Vida Teologal.

Sabemos perfeitamente que Deus nos espera na solidão do nosso coração e que, para encontrá-LO temos de sacrificar o nosso ser mais íntimo, quando tendemos á dissipação, à fragmentação interior...á divisão que arruína as nossas capacidades de relação.

Mas tememos essa solidão e esse sacrifício e convencemo-nos que temos de nos ocupar em muitas coisas...encontros..reformas...pastorais...o pôr-se em contacto com «o mundo»! é claro que tudo isso é bom, mas não são a coisa mais importante!

Tarde ou cedo teremos de enfrentar a realidade de Deus dentro de nós! Teresa, na sua vida confessa que também esteve nesse dilema...

46-É ASSUNTO AFECTIVO!










Teresa de Jesus, sabia muito bem o que propunha às suas Irmãs e amigas. O Recolhimento é assunto afectivo! é um modo afectuoso de relação e isto é central para o equilibrio humano!


Nós vemos o que acontece no mundo das relações humanas e sabemos o quão imprescindivel é amarmos e sermos amados...

Na eternidade este assunto da afectividade vai continuar...A polarização do nosso ser será DEUS,  que é a Fonte e o AMOR em Pessoa.

Enquanto não se compreendeu a necessidade do olhar interior e enquanto não se comece a praticar o recolhimento, não se pode ter experiência alguma significativa do verdadeiro trato com Deus!

A esterilidade de tantas obras exteriores radica daqui. Só com o coração a transbordar desta relação afectuosa com o Senhor é que concede a marca de Deus a tudo quanto faz e toca!
O RECOLHIMENTO NÃO É OPCIONAL é necessário para progredir, avançar, crescer...é uma resposta cabal e eficaz às necessidades mais profundas da pessoa humana.

45 - POUCA SIMPATIA?



Apesar da pouca simpatia que a nossa proposta da Oração de Recolhimento  encontra em não poucas pessoas, há que propô-la, pois é na INTERIORIDADE que o homem se salva!

A nossa vida  «exterior» é um dos escolhos mais sérios para a verdadeira relação com Deus. Muitas «boas-vontades» permanecem estéreis e isto deve-se a uma espécie de dissipação interior e ausência quase completa dessa mesma interioridade, capacidade de entrar dentro de si mesmo.

Teresa não se cansa de dizer que antes da experiência de Deus, há que haver a experiência de nós em nós mesmos...

O que faz a diferença entre a "religiosidade vaga" da sólida é precisamente o hábito e a capacidade de uma vida recolhida, facilitando a interioridade e a intimidade pessoal com Deus.

44 - A NOSSA PRÓPRIA MENTE PODE SER O NOSSO PIOR INIMIGO!

Teresa foi sempre consciente da dificuldade que existe, especialmente para algumas pessoas para se recolherem dentro de si mesmas.

Destas dificuldades já os Padres do Deserto falavam delas!

Além das dificuldades tradicionais, pois «não é fácil tirar uma coisa tão dificultosa como é a nossa imaginação», estão as dificuldades que o mundo moderno oferece com os seus elementos novos de distracção, com as suas urgências, correrias, penas, abatimentos, sofrimentos, ansiedades.

Como estamos acostumados a um mundo acelerado e em constante movimento, é perfeitamente normal que nos sintamos desorientados quando esse movimento se detém!

Inclusivamente só o pensamento de pararmos pode suscitar em nós alguns medos. A nossa própria mente pode ser o nosso pior inimigo!

43- O QUE NOS OPRIME VERDADEIRAMENTE!


O mundo moderno não possui a tendência para a interioridade. A calma, a quietude, o sossego e o silêncio crispam essa vida e, contudo, o mundo,  precisa do Recolhimento para sobreviver! para entrar numa paz duradoura! para encontrar o seu ponto de equilíbrio! quando dizemos «o mundo» é cada um de nós que o formamos!

O que nos oprime verdadeiramente são as actividades do EGO que falseiam e colocam máscaras na nossa vida e que, apesar de pretenderem criar uma alternativa de vida, resultam incontestavelmente insuficientes para o anseio profundo da pessoa humana que foi criada para Deus!

Krishnamurti diz que «As actividades do EU são espantosamente monótonas! o "EU" é inoportuno, enfadonho, aborrecido e impertinente. É intrinsecamente enervante, sem agudeza e além disso frívolo. Os seus desejos, opostos e em conflito, as suas esperanças e frustrações, as suas realidades e ilusões são escravizantes e vãs. A sua actividade conduz ao seu próprio cansaço! O "EU" está sempre "trepando" e caindo, ganhando e perdendo; e deste fastidioso círculo de frivolidade trata continuamente de escapar. Foge através da activvidade externa ou por meio de agradáveis ilusões: bebida, sexo, diversões...O seu poder de gerar iilusões é complexo e vasto!».

42- UM DESAFIO PARA O MUNDO



Na verdade, este desafio da interioridade resulta - ao homem moderno - quase impossível, e contudo, o repouso não é um luxo mas uma necessidade especialmente para a nossa cultura.

Não o sabemos apreciar convenientemente.

Estar longe das correrias e do barulho pode ser agradável como pausa, como descanso de fim de semana...sim!, mas não como âmbito de interioridade e de revelação interior, como recuperação real de si mesmo.

Muitos de nós não estamos preparados, talvez, por causa de uma escandalosa divisão interior.

Muitos não somos «neuróticos»...somos só normais....
Muitos  somos «normais»...mas não sábios....
Muitos somos «sábios» mas não santos....

Somente a santidade aperfeiçoa a nossa humanidade, ao aperfeiçoar a nossa relação afectuosa com Deus.

41- ESTE AMIGO ESPREITA-NOS!

 "EU DENTRO DE DEUS"...e "DEUS DENTRO DE MIM"...:  Deus e «eu» somos os protagonistas desta relação amistosa e afectuosa!

Este AMIGO VERDADEIRO espreita-nos para nos lançar oportunidades de relação! 

Teresa, nas suas conversas familiares com Jesus, um dia ouviu d'Ele o seguinte:  «Não trabalhes tu, em ter-ME fechado em ti, mas de fechar-te tu em MIM». 

Deus é o ambiente propício para a interioridade...Deus em mim e eu em Deus!

É interessante o que Paulo da Cruz recomenda a uma pessoa que não estava disposta para a oração devido à vida que, parece, havia tido! Aqui estão as suas palavras:

«O seu estado presente reclama fidelidade constante ao Supremo Bem... como se arranjará para ser fiel, você que se reconhece por experiência a mais miserável das criaturas? Já lhe direi em seguida. Fugindo de si mesma como da peste, saindo do temporal para esconder-se no Seio imenso do divino Pai Celestial, que vive fora do tempo ...» e que está dentro de nós próprios!

RECOLHER-SE ...um desafio tão simples para os amigos de Deus, mas tão enorme e quase impossível para o mundo...Paulo Chauchard em «domínio de si mesmo» diz que «O homem moderno não pode permitir-se o luxo do repouso» ...que quererá isto dizer? ....

40 -MEDO DE QUÊ?

Entrar dentro de nós...dá medo, sobretudo ao princípio...medo ...de quê?

O recolhimento, como entrar na interioridade de nós mesmos, recupera-nos a nós mesmos: É uma antropologia que nos realiza como pessoas; uma teologia que explicita a nossa fé e uma mística na qual a pessoa é configurada silenciosamente no mistério de esconder-se com Cristo em Deus!

O orante encontra em si mesmo a atmosfera ideal para a relação amorosa: é Deus, dentro da qual vivemos (Actos 17,28).

Dizia o Senhor a uma das Suas amigas: «Caminha, minha filha, com a tua cabeça dentro de Deus» (Gabriela Bossis)

Caminha, i.e.:
 - Entra dentro de ti, aprofunda a tua própria presença.
 - Sossega a Inteligência: simplifica a mente.
 - Põe-te a amar o Amado!

Deixar estabelecer a cordialidade mediante um colóquio espontaneo ou uma frase ou palavra... Esta frase ou palavra não deve ser analisada, reflectida, mas simplesmente dita amorosamente, afectuosamente...uma e outtra vez como expressão da nossa sinceridade e interioridade.

É bom permanecer assim até que chegue o silêncio e apareçam os 3 sinais que João da Cruz indica, permitindo reconhecer a validade do estar-se em silencio com Deus e sobretudo dentro de Deus!


39-O MUNDO NÃO ENTENDE QUANDO FECHAMOS OS OLHOS

A interioridade do recolhimento nos submerge gradualmente no silêncio,  numa obscuridade tripla mas necessária:

  1. A da obscuridade do mundo, que se deixa ao fecharmos os olhos para entrarmos dentro de nós
  2. A de um Deus que é um Deus do silencio, escondido dentro de nós!
  3. A de nós mesmos! 
  1. O mundo não pode entender o gesto de fecharmos os olhos para entrarmos dentro de nós mesmos...A exterioridade tem muita força quando a fé não é forte! e a exterioridade e a superficialidade - estar fora do Castelo Interior da nossa "alma" -  mata a capacidade para a experiência mística verdadeira, que é verdadeira relação afectuosa.
  2. Gostariamos que Deus se manifestasse, assim logo á primeira...sem nenhuma paciência da nossa parte. O silencio deste Deus escondido, é pedagógico e necessário! Não O podemos conhecer se não estivermos nas condições mínimas para essa experiência pessoal de relação.
  3. O Recolhimento nos submerge na nossa própria unção (Jo 2,26-27) interior. É ali onde brota a força, a sabedoria que nos ensina e transforma a nossa vida e o nosso olhar. Quando o orante se submerge dentro de si, oculta-se incluso a seus próprios olhos, aceita essa «morte» a tudo quanto é visível para «perder-se» na Infinita beleza da sua fonte interior....

38 - 0 CHOQUE DO CONTACTO COM DEUS

Dissemos numa das "postagens" anteriores que a melhor oração era aquela feita sem modos nem maneiras...
Estamos realmente dentro da simplicidade, mas uma simplicidade que se realiza num regime de pobreza.
Que quer isto dizer? 
A oração como AMIZADE que implica o recolhimento interior e desemboca na Contemplação não nasce da fartura de meditação, mas da penúria de toda classe de recursos....É como uma pessoa que não sabe o que há-de fazer mais e deita-se para cima da cama perplexa...em silencio, sem saber o que fazer e o que pensar!

Existem precisamente - segundo a mística do Carmelo Descalço - duas grandes fontes para esta experiência relacional com Deus de que tratamos:

 1. A pobreza ou penúria de recursos humanos.
 2. A crescente urgência da presença de Deus.
Necessariamente o amigo de Deus (o orante) recebe uma nova percepção de si mesmo: Ao "afundar-se" na percepção de Deus parece ter empobrecido pessoalmente. E isto, porquê?

A acção de Deus produz impotência, secura e uma espécie de passividade das faculdades mentais. Esta passividade é consequência do "schok" do contacto com Deus.

O efeito normal e o mais precioso desta acção de Deus é precisamente essa experiência de impotência nas faculdades. 

Na verdade, com o tempo, o orante foi experimentando o cansaço de pensamentos e imagens. É desta forma que as imagens mentais e o pensamento tantas vezes irrequieto, deixam de ser um obstáculo, para dar oportunidade a que o olhar interior brote, um olhar despojado e que tende a estabelecer-se de forma espontânea, como meio de comunicação interior com O AMIGO. Ela começa a gostar de estar a sós com "atenção amorosa a Deus", na paz interior e quietude e descanso, sem fazer actos ou exercícios das potencias: memória, Inteligência e Vontade. Só essa atenção geral e amorosa a Deus, sem se fixar em nada em particular nem entender em quê...

37 - UMA MORTE DADA À NOSSA POBRE SUPERFICIALIDADE

Dentro da espiritualidade do recolhimento proposto por Teresa de Jesus, dá-se como que uma situação baptismal.
O orante simplesmente submerge-se livremente nesse âmbito necessário de pobreza e despojamento que é o "recolhimento" onde "se esconde" com Cristo em Deus.

Este recolhimento é como um gesto baptismal eficaz, é como uma imersão  e uma morte que se dá à nossa pobre superficialidade, como uma forma de afinar o olhar interior e exercitar-se nessa imersão  na obscuridade da fé dentro de nós mesmos e dentro de Deus.

Fascina a força da palavra de João da Cruz para criar a consciência desta imersão em Deus:  

« Que mais queres, ó alma, e que mais procuras fora de ti, pois dentro de ti tens a tua riqueza e satisfação, a tua fartura e o teu reino que é o TEU AMADO? ... 

Regozija-te e alegra-te no teu interior recolhimento com ELE, pois O tens tão perto! Não O procures fora de ti porque não O encontrarás tão depressa...Ele está dentro de ti, mas escondido! Grande coisa é saber o lugar onde ELE está para buscá-l'O com toda a certeza!»

36 - FORMA DE VIDA DE HOMENS LIVRES!

Teresa, com a sua tendência natural para a amizade chega á descoberta de Cristo pelo seu decidido amor à verdade e à liberdade.Todo o ser humano procura a amizade, a verdade e a liberdade. Mas a descoberta DA verdade PESSOAL e a Verdade de DEUS é como uma tempestade... 

A amizade é a forma de vida de homens livres, porque AMIZADE une simpatia e respeito.

Respeitar é um reflexo vivo da liberdade e da maturidade! Ora na ORAÇÃO como TRATO DE AMIZADE existe precisamente esta simpatia e respeito mútuos entre o ser humano e Deus, entre Deus e o ser humano.

Diante do amigo não necessitamos de estar sempre a agradecer, pois estamos uns com os outros e uns para os outros. Guarda-se respeito diante da liberdade do outro. Deus respeita o amigo/a e por sua vez o amigo/a respeita a liberdade de Deus.

ORAR, por isso, sem ter a certeza de se ser escutado pelo OUTRO, é servil (Moltman) Seria apenas mendigar ou debitar palavras. Seria infantil pretender ser escutado só pela quantidade de palavras ou pelo muito pedir. Há que haver respeito pelo ritmo de Deus

O ser humano ao  respeitar a liberdade de DEUS, sabe que ELE fará sempre o que for mais conveniente...
A Amizade/ simpatia e respeito podemos aprendê-lo de Teresa.

NÃO HÁ FORMA MAIS SUBLIME E HUMANA DO QUE A AMIZADE DE DEUS! Quem a experimentou realmente, sabe que dizemos a verdade! O olhar interior adquire pureza e precisão!

35- O POVO NÃO ENTENDE ESTA PROCURA DE LIBERDADE!

Diz Miguel de Unamuno: "O Povo não entende, nem compreende como Teresa de Jesus foi para o Mosteiro à procura da Liberdade"

Diz ele também que « o povo não entende nada de mística. A mística não tem nada de popular!»...
será isto assim? 
Na verdade todos temos capacidade para uma verdadeira experiência mística. Não são as mudanças, os lugares e as situações pessoais que afectam a relação com Deus.
O QUE INTERESSA VERDADEIRAMENTE  É AUMENTAR...A NOSSA CAPACIDADE DE ENCONTRO com AQUELE que nos ama!
É neste encontro que podemos descobrir a LIBERDADE INTERIOR que irradia e se derrama para o exterior: liberdade diante das coisas, das pessoas, na escolha do bem...