28. RÉDEA SOLTA!

O caminho que Teresa ensina é, inicialmente,  um método,  mesmo que não seja equiparável a outros (Nicolás Caballero) 

« Se eu proponho a uma pessoa,  20 métodos para orar,  estou simplesmente a dar-lhe a oportunidade de escolher. Essa escolha vai depender do gosto e da preferência de cada um... 

Mas... que acontece se o método que Teresa propõe não é somente para que o escolham entre muitos outros mas também para "destruir" os outros modos de orar e nos levar mais rapidamente à oração "sem método", à oração "sem modo"?

Porque orar "sem modos nem maneiras" é a meta necessária e pretensão saudável de qualquer orante como explica o Doutor Místico S. João da Cruz....É como um navio, a rédea solta, no alto mar! o navio é capaz de se perder, mas este modo de Teresa é o MODO DE DEUS!

Este «modo» apresentado por Teresa não só é necesário para orar, mas também para progredir. Esta é a diferença básica própria do modo teresiano de recolhimento activo. Ele simplifica tudo. A pessoa começa a viver uma simplificação a todos os níveis.

27- VELOCIDADE VERTIGINOSA..

O percurso até ao centro do coração de Deus, é um percurso que leva o seu tempo! há que passar por múltiplas situações e o caminho não é sempre plano...

OS CARRIS DESTE PERCURSO é o olhar interior que devemos procurar que seja uma expressão simples e sincera do movimento da própria mente e do próprio coração desde a situação em que cada um se encontra e sem forçá-la!
Este olhar amoroso interior faz parte intrínseca desta RELAÇÃO COM O AMIGO e é formado por duas dimensões: o Amor e a espontaneidade!


A primeira forma concreta deste olhar interior é: "apresentar necessidades" mediante as carências que cada um sofre ou as angústias do próprio coração ... «Sem cansar-se em arranjar razões, mas apresentar as próprias necessidades!" Vida 13,11e . É  Teresa que o diz, pois é que normalmente está ao alcance de cada um. 

A espontaneidade diante DELE É FUNDAMENTAL para adiantarmos nesta Amizade maravilhosa que dá sentido a tudo o que faz parte de nós...

O AMIGO prefere que não disfarcemos os nossos problemas com palavras estudadas nem com mecanismos de defesa... 

ELE  gosta da nossa verdade, humildemente reconhecida, sem o esforço de pensar nem reflectir sobre ela, mas dita assim...sem floreados, sem desculpas, sem "arranjos"...sem culpar ninguém!

Ele prefere mil vezes a nossa espontaneidade...

Ser espontâneo!. Contar simplesmente a Deus o que me dói, dizer-LHE sem preâmbulos o que me acontece...

O AMIGO vive dentro da pessoa, por isso falamos com Quem nos habita.. Este colóquio é o resultado normal do encontro interior que houve e dessa percepção cada vez mais nítida da SUA presença.

26. DIFICULDADE?


Como existem pessoas que têm dificuldade em dar forma ao seu «olhar» interior nesta relação amorosa com Deus, é bom dizer que não se trata de «visualizar» nada. 

Somente se necessita uma simples tomada de consciência, mesmo que seja difusa e geral, sem nada imaginar de concreto, de que O AMIGO está aí com toda a certeza!. 

Da mesma forma não se deve insistir na necessidade de falar interiormente, se não se sente vontade disso, pois este olhar incute silencio de ideias e pensamentos. 

Esse olhar ajuda a ultrapassar aquilo a que normalmente chamam "meditação" que é o discurso mental, essa multidão de ideias e as grandes reflexões...

Ele faz subir rapidamente para uma oração afectiva simples que nos estabiliza na simplicidade, unificando e simplificando a nossa mente e o nosso coração...

25. COMO UM FELINO!



 Como vimos anteriormente,   os elementos dinâmicos da ORAÇÃO TERESIANA  (Recolhimento activo) que Teresa nos oferece experimentar,  nada tem a ver com pensar muito ou imaginar muito, mas resume-se a um simples olhar interior afectivo, é um «REPARAR  QUE ELE ME OLHA!»

Este "OLHAR", este "REPARAR" "DAR-SE CONTA" é a chave de ouro da vida mística de Teresa, que a lança numa corrida vertiginosa para o AMOR!  é como o felino na sua corrida em pós da presa desejada!

Olhar que privilegia o silencio do pensamento que se submete ao Amor expresso no olhar interior...

24 - EFICÁCIA DO SEU CAMINHO!


Teresa ensinou este modo a todos os que se relacionaram com ela: homens, mulheres, velhos, crianças, casados, solteiros... o que naquela época foi um escândalo!.

Viu-se «metida» em Deus de uma forma tão maravilhosa,  e aproveitar tanto em tão pouco tempo que não quis guardar só para si o seu segredo!Uma das pessoas em que ela quis experimentar a EFICÁCIA DO SEU CAMINHO foi o seu próprio pai.

Diz ela: "Como queria tanto o meu pai, desejava-lhe o bem que me parecia que teria com ter oração e assim, por rodeios, conforme pude, comecei a fazer com que a tivesse (...) como era tão virtuoso, assentou tão bem nele este exercício que, em 5 ou 6 anos (...) estava tão adiantado que eu louvava muito o Senhor e dava-me grandíssima consolação..." pois "parecia-me a mim que, visto eu não servir o Senhor como entendia que Ele queria, era necessário não se perder o que Ele me tinha dado a conhecer e que outros O servissem por mim!» ( Vida 7,10-13)

Ensinou o Recolhimento activo assinalado por 4 elementos dinâmicos:

  1. A FÉ, que nos confirma a proximidade de Deus
  2. A SOLEDADE, aquela que é elementar, corrigindo a tendência para a exteriorização. Ensina a conviver consigo próprio.
  3. O OLHAR INTERIOR, que se converte em "olhar silencioso" na medida em que a pessoa se vá despojando  de "conteúdos" da consciência. Este olhar interior, faz possível passar e até prescindir do discurso e reflexão mental para a relação afectiva.
  4. A RELAÇÃO AFECTUOSA E ESPONTÂNEA.

 Teresa nunca pôde «imaginar» nada na oração. Diz ela: «Procurava o mais que pudesse trazer Jesus Cristo, nosso Bem e Senhor, dentro de mim. E esta era a minha maneira de oração. Se pensava em algum passo (do Evangelho) apresentava-o no meu interior» (Vida,4,8)  e «Eu só podia pensar em Cristo como HOMEM...porque nunca consegui fazer uso da imaginação» (Vida 9,6)

NÃO PERCAMOS NÓS, ESTA OPORTUNIDADE! EXPERIMENTEMOS TAMBÉM! NADA PERDEREMOS, ANTES PELO CONTRÁRIO!

23. ... A SÓS COM ELE!




Para Teresa, oração é, portanto, TRATAR DE AMIZADE COM O AMIGO (Deus), estando muitas vezes tratando a sós com quem sabemos nos ama! E repete uma e outra vez que a coisa não está em pensar muito mas em amar muito. Insiste na subordinação do pensamento ao amor!

Sempre tão renitente em aconselhar coisas extraordinárias, não se cansa de induzir-nos a que sigamos o seu modo de «Recolhimento activo» porque sabe que  é a fronteira da vida ascética (a actividade do nosso querer e controle) e a vida mística (aquilo que depende só de Deus), e do qual derivam muitos bens espirituais e morais para a pessoa.

Em definitiva é colocar-se nas disposições ideais para quando Deus queira dar o que nos quer dar, a fim de nos chegar a Si.
Teresa vê claro que este modo de oração é essencialmente RELAÇÃO PESSOAL DE AMOR, e que aquilo que é realmente importante não são os conteúdos da relação, mas a mesmíssima relação

22. FASCINANTE !


Teresa apresenta-nos o seu "modo" de estar com Deus, que propicia uma soledade em que a pessoa toda trata de «assenhorear-se» de si mesma. É uma dinâmica progressiva que, como já vimos, implica: 



1. "Entrar dentro de si mesmo " onde Deus mora.   

2."Sossegar o pensamento e a imaginação" para descobrir a beleza e eficácia do "olhar simples e afectivo»

3."Cativar a vontade" pondo-a como fundamento essencial da relação  com O AMIGO, que é uma relação de Amor. 


Significa uma libertação progressiva, uma "singular" desocupação de tudo o que impede que Deus se derrame no nosso coração (Rm 5,5) e no nosso corpo e em todos os espaços vitais da nossa vida.


É fascinante a perspectiva de poder «orar», i.e. relacionar-me com O AMIGO (Deus) desde as raízes do «meu» ser e assumir neste projecto de oração relacional, TODO O MEU PROJECTO HUMANO!

21 - O ESFORÇO ...




Ao esforço por «reparar que ELE me olha», Teresa chama-lhe «Recolhimento activo», porque depende de nós procurá-lo, exercitarmo-nos nele e mantê-lo. Diz Teresa: «entendei que isto (ainda) não é coisa sobrenatural, senão que está no nosso querer e podemos fazê-lo com o favor de Deus pois, sem ele, não se pode nada...» C.P.29,4)

Porque, com o tempo, outro «recolhimento» aparecerá, sem que a actividade humana o possa justificar! A este chama-se «recolhimento passivo» que é um Dom de Deus!

Teresa atribui ao «Recolhimento activo» um alto valor humano porque ajuda muito a tornarmo-nos pouco a pouco,  «senhores de nós mesmos». Em definitiva é um modo inteligente de controlo que a pessoa exerce sobre si mesma e que trata de pôr ao serviço deste exercício de fé que é a oração ( a relação com O Amigo).

Este recolhimento activo que favorece o auto-controlo nada tem a ver com o humanismo fechado e auto centrado sobre si mesmo. Teresa difere radicalmente desses dois humanismos, já que para ela o que lhe interessa é  «dispôr-se a ser tomado por Deus». Assenhorear-se de si mesmo  é, no fundo,  a possibilidade de «entregar-se» sem resistências nem barreiras.

Aqui estão as palavras dela: «temos de nos desocupar de tudo para nos chegarmos interiormente a Deus» ( C.P. 29,5).  É um processo  para facilitar a "encarnação" do Amor de Deus em tudo quanto é humano. Só depende da pessoa querer iniciar este processo libertador da própria vida.

20 -O MELHOR VINHO DA VIDA!



O Amor de Deus é real, mexe connosco... é o melhor vinho que a vida nos pode dar a beber! Não podemos ignorar que tudo o que pode preencher realmente o coração humano, vem de DEUS...
Este Deus tem a capacidade inconfundível de nos embriagar!

Sabemos bem, e bem sentimos ao vivo o quanto sofremos por tudo e por nada, por mil e uma coisas...As pessoas não chegam às expectativas dos anseios «infinitos» que o nosso coração tem... Os apegos afetivos que a maior parte das vezes nos escravizam, limitam profundamente a liberdade interior, rampa de lançamento do  AMOR DE OURO...

Reparemos bem nos afectos humanos que são tão saborosos e tão lindos, ou aquela pessoa que amo tanto: um dia falham, faltam! Tudo termina um dia, tudo tem limitações...um dia essa pessoa tão maravilhosa para mim morrerá, fico desamparad@.....e esse amor? com o tempo dá passo ao esquecimento...e a vida continua o seu percurso!

Por isso temos de ter como ALICERCE uma realidade que dure, que nos apoie na falta do amor humano, do acolhimento que não nos dão, do desaparecimento daquele ou daquela que era a minha alegria...

Teresa chamada "a de Jesus", TESTEMUNHA QUALIFICADA de Deus, deseja muito que experimentemos o modo dela se relacionar com O AMOR, como Pessoa maravilhosa que é Deus...porque na verdade este AMOR com letra maiúscula, é o único que dá profundo e verdadeiro sentido a tudo o que é nosso...já que NUNCA diminui nem NUNCA morre...

19. NÃO ESTAMOS VAZIOS

Santa Isabel (Elisabeth) da Trindade


Mergulhados nas "águas" da própria intimidade de nós mesmos e na de Deus, procuramos dentro de nós, não o vazio, mas a revelação de um ROSTO, o do AMIGO!:  "Repara que te olha!" 

Procuramos uma antecipação do «face-a-face» com O AMIGO, anunciado no Apocalipse de João (Apoc. 22,4)...e desejamos vê-L'O com os nossos próprios olhos (Job 19,27). 

Na consciência da Sua proximidade,  vão nascendo as condições para a experiencia de Deus e para o enamoramento. Esta realidade vai passando da «cabeça» para o «coração».

A oração teresiana é uma manifestação AFECTIVA entre as pessoas que se querem bem e que se encontram próximas: Deus e a pessoa humana...Deus e tu... Diz ela: «O que mais havemos de procurar ao princípio é de cuidar só dela (a alma em relação com O Amigo) , fazendo de conta que não há na terra senão Deus e ela; e isto é o que muito lhe convém!». (Vida 13,9). 

A originalidade de Teresa - como já foi dito algures -  é esta: não espera que o afecto seja fruto das ideias ou do discurso mental, mas simplesmente da fé e dessa consciência de proximidade que estabelece com O AMIGO (Deus) dentro de si mesma.
Esta circunstancia suscita o inevitável colóquio «saído do coração», se a consciência de Sua proximidade é forte.

Como exemplo vivo desta interioridade com o Amigo Jesus Cristo, é a nossa Santa Isabel da Trindade, Carmelita Descalça, que morreu aos 26 anos.