38 - 0 CHOQUE DO CONTACTO COM DEUS

Dissemos numa das "postagens" anteriores que a melhor oração era aquela feita sem modos nem maneiras...
Estamos realmente dentro da simplicidade, mas uma simplicidade que se realiza num regime de pobreza.
Que quer isto dizer? 
A oração como AMIZADE que implica o recolhimento interior e desemboca na Contemplação não nasce da fartura de meditação, mas da penúria de toda classe de recursos....É como uma pessoa que não sabe o que há-de fazer mais e deita-se para cima da cama perplexa...em silencio, sem saber o que fazer e o que pensar!

Existem precisamente - segundo a mística do Carmelo Descalço - duas grandes fontes para esta experiência relacional com Deus de que tratamos:

 1. A pobreza ou penúria de recursos humanos.
 2. A crescente urgência da presença de Deus.
Necessariamente o amigo de Deus (o orante) recebe uma nova percepção de si mesmo: Ao "afundar-se" na percepção de Deus parece ter empobrecido pessoalmente. E isto, porquê?

A acção de Deus produz impotência, secura e uma espécie de passividade das faculdades mentais. Esta passividade é consequência do "schok" do contacto com Deus.

O efeito normal e o mais precioso desta acção de Deus é precisamente essa experiência de impotência nas faculdades. 

Na verdade, com o tempo, o orante foi experimentando o cansaço de pensamentos e imagens. É desta forma que as imagens mentais e o pensamento tantas vezes irrequieto, deixam de ser um obstáculo, para dar oportunidade a que o olhar interior brote, um olhar despojado e que tende a estabelecer-se de forma espontânea, como meio de comunicação interior com O AMIGO. Ela começa a gostar de estar a sós com "atenção amorosa a Deus", na paz interior e quietude e descanso, sem fazer actos ou exercícios das potencias: memória, Inteligência e Vontade. Só essa atenção geral e amorosa a Deus, sem se fixar em nada em particular nem entender em quê...

37 - UMA MORTE DADA À NOSSA POBRE SUPERFICIALIDADE

Dentro da espiritualidade do recolhimento proposto por Teresa de Jesus, dá-se como que uma situação baptismal.
O orante simplesmente submerge-se livremente nesse âmbito necessário de pobreza e despojamento que é o "recolhimento" onde "se esconde" com Cristo em Deus.

Este recolhimento é como um gesto baptismal eficaz, é como uma imersão  e uma morte que se dá à nossa pobre superficialidade, como uma forma de afinar o olhar interior e exercitar-se nessa imersão  na obscuridade da fé dentro de nós mesmos e dentro de Deus.

Fascina a força da palavra de João da Cruz para criar a consciência desta imersão em Deus:  

« Que mais queres, ó alma, e que mais procuras fora de ti, pois dentro de ti tens a tua riqueza e satisfação, a tua fartura e o teu reino que é o TEU AMADO? ... 

Regozija-te e alegra-te no teu interior recolhimento com ELE, pois O tens tão perto! Não O procures fora de ti porque não O encontrarás tão depressa...Ele está dentro de ti, mas escondido! Grande coisa é saber o lugar onde ELE está para buscá-l'O com toda a certeza!»

36 - FORMA DE VIDA DE HOMENS LIVRES!

Teresa, com a sua tendência natural para a amizade chega á descoberta de Cristo pelo seu decidido amor à verdade e à liberdade.Todo o ser humano procura a amizade, a verdade e a liberdade. Mas a descoberta DA verdade PESSOAL e a Verdade de DEUS é como uma tempestade... 

A amizade é a forma de vida de homens livres, porque AMIZADE une simpatia e respeito.

Respeitar é um reflexo vivo da liberdade e da maturidade! Ora na ORAÇÃO como TRATO DE AMIZADE existe precisamente esta simpatia e respeito mútuos entre o ser humano e Deus, entre Deus e o ser humano.

Diante do amigo não necessitamos de estar sempre a agradecer, pois estamos uns com os outros e uns para os outros. Guarda-se respeito diante da liberdade do outro. Deus respeita o amigo/a e por sua vez o amigo/a respeita a liberdade de Deus.

ORAR, por isso, sem ter a certeza de se ser escutado pelo OUTRO, é servil (Moltman) Seria apenas mendigar ou debitar palavras. Seria infantil pretender ser escutado só pela quantidade de palavras ou pelo muito pedir. Há que haver respeito pelo ritmo de Deus

O ser humano ao  respeitar a liberdade de DEUS, sabe que ELE fará sempre o que for mais conveniente...
A Amizade/ simpatia e respeito podemos aprendê-lo de Teresa.

NÃO HÁ FORMA MAIS SUBLIME E HUMANA DO QUE A AMIZADE DE DEUS! Quem a experimentou realmente, sabe que dizemos a verdade! O olhar interior adquire pureza e precisão!

35- O POVO NÃO ENTENDE ESTA PROCURA DE LIBERDADE!

Diz Miguel de Unamuno: "O Povo não entende, nem compreende como Teresa de Jesus foi para o Mosteiro à procura da Liberdade"

Diz ele também que « o povo não entende nada de mística. A mística não tem nada de popular!»...
será isto assim? 
Na verdade todos temos capacidade para uma verdadeira experiência mística. Não são as mudanças, os lugares e as situações pessoais que afectam a relação com Deus.
O QUE INTERESSA VERDADEIRAMENTE  É AUMENTAR...A NOSSA CAPACIDADE DE ENCONTRO com AQUELE que nos ama!
É neste encontro que podemos descobrir a LIBERDADE INTERIOR que irradia e se derrama para o exterior: liberdade diante das coisas, das pessoas, na escolha do bem...